Cúpula EUA-África é ‘um sinal de desespero’ para combater presença chinesa, dizem especialistas

A Cúpula EUA-África, de 13 a 15 de dezembro, vai envolver 49 delegações de Estados africanos e uma da União Africana (UA). Burkina Faso, Mali, Guiné e Sudão foram excluídos devido à suspensão de sua filiação à UA. A Eritreia, que não tem relações diplomáticas com os Estados Unidos, também foi excluída.

A próxima cúpula EUA-África faz parte das tentativas de Washington de minar a crescente influência chinesa na África, disse o autor, pesquisador e professor de história da Universidade de Houston, Texas, Dr. Gerald Horne, em entrevista à Sputnik.

“Bem, é um sinal de desespero. É um sinal do fato de que os Estados Unidos estão ficando cada vez mais histéricos sobre as relações mais estreitas entre a China e a África em particular. Tenha em mente que o que impulsionou os Estados Unidos e seus aliados do Atlântico Norte na pole position do planeta Terra tem sido justamente a exploração dos recursos africanos, a exploração do povo africano, falando do não lamentado tráfico de escravos africanos”, sublinha.

Nenhum programa especial que poderia ser proposto na cúpula é capaz de minar significativamente a influência da China na África, observa o professor da Escola Superior de Economia de Moscou, na Rússia, Nikolai Shcherbakov. Segundo ele, abraçar o universalismo em sua política para a África é a única opção para os EUA – que têm enviado convites para a cúpula até mesmo para aqueles sob sanções norte-americanas.

“Hoje seu vizinho não foi convidado, amanhã você pode não ser convidado. Na África, eles entendem que isso pode acontecer com qualquer um, então os Estados Unidos são forçados a demonstrar universalismo. A experiência adquirida pela China nos últimos anos ao realizar cúpulas pan-africanas mostra que não só não faz distinções por razões políticas, mas coopera enfaticamente com todos, mesmo com pequenos Estados onde a China não tem interesses especiais. A China não faz distinções, está empenhada no diálogo com todos os países africanos”, diz Shcherbakov.

Enquanto isso, a China é o maior parceiro comercial da África. O volume do comércio China-África atingiu US$ 254 bilhões (cerca de R$ 1,3 trilhões) em 2021, o que é quatro vezes o volume do comércio entre os Estados Unidos e os países africanos. A China continua sendo a maior fonte de investimento direto, cerca do dobro do nível de investimento dos Estados Unidos.

O vice-diretor do Centro para a Ásia Ocidental e África na Universidade de Anhui, Fang Wei, observa que, em comparação com a Cúpula EUA-África, que está sendo realizada oito anos após a anterior, as cúpulas do Fórum de Cooperação China-África foram realizadas a cada três anos nos últimos 22 anos, estabelecendo uma base sólida para a interação da China com os países africanos.

“[A] África é atraída pela experiência chinesa na modernização da economia e da sociedade. [O que] corresponde às necessidades de valor e aos interesses básicos de um grande número de países do continente africano, que há muito sofrem com a dominação colonial e valorizam muito a soberania nacional após a independência”, acrescenta Fang Wei.

Segundo o Dr. Horne, com a “ascensão da China”, as nações africanas têm agora outras opções em vez de cooperar com os países ocidentais, com o agravamento das relações do Mali com a França e a retirada das tropas deste país do país da África Ocidental servindo como um flagrante exemplo.

O alinhamento de forças na região do Sahel da África Ocidental mudou desde que governos anti-franceses chegaram ao poder em Burkina Faso e Mali como resultado de golpes militares. A Operação Barkhane liderada pela França chegou ao fim, seguida por decisões de outros países ocidentais de se retirar da Missão de Estabilização Multidimensional Integrada das Nações Unidas no Mali (Minusma, na sigla em inglês). Recentemente, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao, na sigla em francês) anunciou planos para criar a sua própria missão de manutenção da paz na região.

O Dr. Horne acredita que, nessas circunstâncias, os Estados Unidos estão cooperando com seus parceiros europeus na busca de interesses egoístas na África – mas as perspectivas dessa cooperação são duvidosas.

“Faço referência aqui à recente viagem a Washington do presidente francês Macron. E certamente na agenda de suas conversas com o presidente dos EUA, Sr. Biden, estavam as tentativas de estreitar as relações entre Washington e Paris para que a África pudesse ser explorada de maneira mais útil. Eu gostaria de […] pensar que esses tempos ruins [do colonialismo] acabaram”, conclui o professor.

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