‘Deixa acalmar’, diz Bolsonaro sobre cobranças para manter ataques ao STF

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje ter sido cobrado — sem especificar por quem — a manter os ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal) e rebater as declarações do ministro Luiz Fux, presidente da Corte, que ontem reagiu às ameaças de Bolsonaro feitas durante os atos de caráter antidemocrático e golpista de 7 de setembro.

“Queriam que eu respondesse o presidente do Supremo, Fux, que fez uma nota dura. Também usou da palavra o Arthur Lira, [presidente] da Câmara, o Augusto Aras, nosso procurador-geral da República. Alguns do meu lado aqui, alguns poucos, vieram até com o discurso pronto: ‘Tem que reagir, tem que bater’. Calma, amanhã a gente fala, deixa acalmar para amanhã”, disse o presidente, durante sua live semanal.

Nós temos que dar exemplo aqui em Brasília. Por mais que eu ache que você está fazendo a coisa errada, dá um tempo, deixa acalmar um pouquinho. Comecei a preparar uma nota… Telefonei ontem à noite para o Michel Temer, ele veio a Brasília, por dois momentos conversou comigo aqui, pouco mais de uma hora. Ele colaborou com algumas coisas na nota, eu concordei e publiquei. Não tem nada de mais ali.
Jair Bolsonaro, durante live

Crítica a Barroso

Ao reafirmar sua abertura para o diálogo, Bolsonaro disse que não agrediu qualquer instituição e que tem “brigas pontuais” com ministros do Supremo. Manifestou, inclusive, intenção de conversar com o presidente do TSE e ministro do STF Luís Roberto Barroso, um dos alvos preferidos de seus ataques.

Emendou, no entanto, em um de seus assuntos preferidos e objeto da discórdia com o presidente da corte eleitoral: seus questionamentos sobre a confiabilidade do atual sistema de votação. Na live desta quinta, Bolsonaro voltou a sugerir irregularidades nas últimas eleições e disse acreditar ter recebido mais votos do que os computados, embora nunca tenha provado isso.

Também questionou o fato de Barroso ter anunciado medidas que ampliam a transparência do sistema de votação. Para Bolsonaro, se há espaço para novas medidas, é porque havia brecha no sistema.

Temer foi coautor da carta de Bolsonaro

Na “declaração à nação”, publicada por volta de 16h30, Bolsonaro justificou os ataques ao STF dizendo que suas palavras, “por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”. Ele também afirmou que “sempre” esteve disposto a manter diálogo permanente com os poderes Legislativo e o Judiciário “pela manutenção da harmonia”.

“Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição”.Jair Bolsonaro, em carta

Antecessor de Bolsonaro, Temer foi coautor da nota, tendo sido convidado para ir a Brasília pelo próprio Bolsonaro. O presidente, contou Temer, mandou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) ir buscá-lo em São Paulo para que eles pudessem almoçar juntos e conversar sobre a crise entre os Poderes.

“Eu vim [a Brasília], trouxe até um esboço de uma declaração, submeti a ele [Bolsonaro] no almoço, ele disse ‘olha, eu vou só fazer uma pequena observação aqui’, e eu falei ‘olha, então vou visitar o governador Ibaneis [Rocha (MDB), do DF] e volto em seguida para ver a nota com a modificação’. Voltei, ele me deu a nota, que é essa que foi divulgada”, relatou Temer ao “Brasil Urgente”, da Band TV.

O emedebista também afirmou que, apesar de já ter conversado com Bolsonaro, o convite de agora foi surpreendente: “É claro que foi uma surpresa, porque a situação estava muito tensa, muito preocupante”, completou.

Pós-7 de setembro

A carta veio dois dias depois de Bolsonaro participar de atos golpistas em Brasília e em São Paulo, onde voltou a ameaçar o Judiciário — o que, para juristas ouvidos pelo UOL, pode configurar crime de responsabilidade e levar a um impeachment.

Na capital federal, os ataques se dirigiram ao ministro Luiz Fux e ao próprio STF. Mais tarde, já na Avenida Paulista, Bolsonaro pregou desobediência ao ministro Alexandre de Moraes, principal alvo dos manifestantes ali presentes, e o xingou de “canalha”.

Moraes é desafeto de Bolsonaro desde o início de 2019, quando foi nomeado relator do inquérito que investiga ataques e disseminação de fake news contra o STF e seus ministros. No fim de agosto, Bolsonaro chegou a enviar ao Senado um pedido de impeachment contra Moraes, posteriormente rejeitado por Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente da Casa.

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