Pesquisadora: apoio de artistas pode ser fundamental e ter peso maior do que em outras eleições

Com o início oficial da corrida eleitoral no Brasil, os candidatos à Presidência buscam ampliar e consolidar suas bases de apoio. Como é de praxe, a classe artística também deve se associar às campanhas políticas. A Sputnik Brasil ouviu uma cientista política especialista em eleições para discutir a influência artística no pleito.

Na primeira metade de julho, a cantora Anitta foi notícia em sites e jornais brasileiros ao assumir publicamente que pretende votar e fazer campanha para o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que busca voltar à cadeira presidencial. O anúncio fez barulho e gerou reações da campanha do principal adversário de Lula no pleito eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que também conta com o apoio de artistas, como o cantor sertanejo Gusttavo Lima.

Para a cientista social Maria do Socorro Sousa Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a polarização política “radicalizada” em torno das candidaturas de Lula e Bolsonaro aumenta a importância do apoio de artistas. Segundo ela, em um contexto no qual essas duas propostas de projetos políticos “muito distintos” lideram a corrida eleitoral, o apoio de artistas “pode ser fundamental”.

“Os artistas têm muita relação com o público. Esse apoio popular dos artistas acaba sendo quase que um trampolim, pois reduz muito o caminho entre um político e o apoio eleitoral. Então, quanto maior o número de artistas populares, que têm grande gama de influência sobre públicos diversos, maior o retorno para aquela campanha”, afirma a pesquisadora em entrevista à Sputnik Brasil.

Em pleitos eleitorais anteriores no Brasil, artistas de televisão exerceram papéis relevantes durante as campanhas. Em 1989, diversos atores e atrizes se juntaram ao coro do famoso jingle “Lula Lá”. Em 2002, Regina Duarte gerou polêmica com um vídeo para a campanha de José Serra (PSDB) em que dizia temer a vitória do PT. Em 2014, a campanha de Aécio Neves (PSDB) também veiculou o apoio de atores de novela consagrados, como Ney Latorraca e Lima Duarte.

O presidente Jair Bolsonaro se encontra com a então secretária nacional de Cultura do governo federal, Regina Duarte. (Foto: Carolina Antunes/Divulgação/Palácio do Planalto)

Desde então, porém, a televisão perdeu espaço para a Internet no Brasil, o que ficou evidente na campanha de Bolsonaro, em 2018, na qual as redes sociais foram fundamentais. Para a pesquisadora Maria do Socorro Braga, apesar dessa mudança, a televisão continua importante para as campanhas eleitorais.

“A gente sabe que as redes sociais têm cada vez mais influência, especialmente de meados dos anos 1990 para cá, mas a TV mantém uma relação muito forte com vários públicos, especialmente a TV aberta”, explica Braga.

A pesquisadora salienta a importância do horário eleitoral, do noticiário e dos canais religiosos na programação televisiva. Segundo ela, esses segmentos da transmissão seguem relevantes em termos de influência política.

“As redes sociais, por mais que atinjam certos segmentos, ainda há outros que não têm tanto acesso ou, se têm acesso, são redes sociais menos amplas e de conteúdo menos sofisticado”, avalia.

A cantora Pabllo Vittar se apresenta no festival Lollapalooza, em São Paulo, em 25 de março de 2022. Foto: Folhapress / Rubens Cavallari)

Postura do governo aumenta relevância da pauta cultural nas eleições

Ao longo do governo Bolsonaro, um dos principais polos de oposição ao governo foi o da categoria artística, o que ficou evidente em momentos como os da aprovação de legislações de apoio ao setor, como as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo — criticadas pelo Planalto.

O governo Bolsonaro também ficou marcado por sucessivas polêmicas envolvendo a pasta da Cultura. Em um dos episódios mais notórios da atual gestão, o então secretário de Cultura, Roberto Alvim, foi afastado da pasta após veicular um vídeo com referências à liderança nazista Joseph Goebbels, em 2020. A sucessora de Alvim, a atriz Regina Duarte, também enfrentou problemas após relativizar a ditadura militar e a tortura.

Roberto Alvim, dramaturgo e ex-secretário de Cultura da gestão Bolsonaro. (Foto: Folhapress / Andre Coelho)

A pesquisadora Maria do Socorro Braga acredita que, por esses fatores, a classe artística terá papel especialmente relevante durante a campanha eleitoral deste ano. Segundo ela, o caráter conservador do governo Bolsonaro impulsiona essa participação.

“Não é só, obviamente, esse setor [da Cultura]. Há vários outros sendo afetados, mas especialmente esse setor foi um dos mais agressivamente atingidos. Então, com certeza, esse setor terá um peso importante nessas eleições. Talvez até maior que em outras eleições”, aponta.

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